Carta Aberta – Comitê Paraibano pela Memória, Verdade e Justiça

No último dia 25 de setembro, a Prefeitura Municipal de João Pessoa reinaugurou a Praça Marechal Castello Branco, localizada nas proximidades do Batalhão de Engenharia do Exército, instalação onde, foram praticadas várias prisões arbitrárias e torturas durante a ditadura civil-militar, de 1964 a 1985.

A comunidade do bairro Pedro Gondim apesar de grata pela obra, nem se deu conta de que aquele ato, no fundo, significava mais uma homenagem a mais um ditador: que assumiu o comando do País após derrubar pelas armas o presidente da República democraticamente eleito pelo povo, rasgando ali e depois a própria constituição brasileira.

O general Humberto de Alencar Castello Branco foi justamente o escolhido pelas classes dominantes do Brasil, pelo alto escalão do Exército e pelo Governo dos Estados Unidos para implantar aqui um regime de exceção que durou 21 anos; e que ficou marcado pelo fim dos direitos e liberdades civis, individuais, coletivos e trabalhistas; pelos sequestros, estupros, torturas e assassinatos de militantes de esquerda, estudantes e trabalhadores.

Em tempos de ressurgimento de um movimento nacional pela efetiva redemocratização do País; no momento em que a Nação se esforça para revelar verdades há quase 50 anos escondidas, é incompreensível a reinauguração da referida praça sem alteração de seu nome, mesmo quando a Lei Municipal 12.626, de 12 de agosto de 2013, taxativamente proíbe a nomeação de lugares públicos com nomes de pessoas que colaboraram com a ditadura civil-militar.

Essa atitude é incompatível com a política de memória e verdade desenvolvida no âmbito municipal: implicando na referida lei e na criação da Comissão Municipal da Verdade de João Pessoa, pela Lei Ordinária Municipal Nº 12.633, de 12 de agosto de 2013.

O Comitê Paraibano pela Memória, Verdade e Justiça vem a público expressar seu repúdio a que se continuem fazendo homenagens a pessoas ligadas à Ditadura Militar, em especial aos torturadores e comandantes deste nefasto período da vida nacional.

Entre outras coisas, é por este tipo de comportamento dos dirigentes políticos brasileiros que nosso povo ainda não compreende por completo a necessidade de passarmos a limpo o período da Ditadura Militar, homenageando aqueles que, de fato, merecem ser chamados de lutadores (as) do povo brasileiro, homens e mulheres que deram suas vidas para que pudéssemos viver num Brasil livre e soberano. Estes sim exemplos a serem seguidos.

 

Nenhuma homenagem aos golpistas, assassinos, torturadores e estupradores!

 

Todas as homenagens aos lutadores (as) do povo brasileiro!

João Pessoa, 27 de setembro de 2013

 

Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça

Comissão de Anistia – Ministério da Justiça

Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero

Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas de Goiás

Dignitatis – Assessoria Técnica Popular

Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB

Grupo de Pesquisa Ymyrapytã: Ligas da Memória, Verdade e Justiça

Serviço de Paz e Justiça – SERPAJ-Brasil

Comissão da Verdade e do memorial da Anistia Política da OAB/MG

Coletivo MVJ- João Batista Rita- Criciuma SC

Fórum Direito à Memória e à Verdade do ES

Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes – AACADE

Rede Memória e Verdade