COMISSÃO DA VERDADE: APLAUSOS E PRESSÕES

 

 

Cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, que “uniu” apoiadores da ditadura e vítimas da repressão

Notícia publicada no sítio da agência Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20164

 

Najla Passos

A histórica cerimônia de instalação da Comissão da Verdade (CV), nesta quarta (16), reuniu sob os tetos do Palácio do Planalto os personagens mais díspares, em situações bastante inusitadas. O ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, cúmplice reconhecido da Ditadura Militar, era só sorrisos ao cumprimentar os membros eleitos para investigar os crimes cometidos pelo Estado durante o regime que ele apoiou.

Os militares chefes de estado das Forças Armadas, reunidos no mesmo bloco de cadeiras em que perfilavam militantes históricos dos direitos humanos e familiares de mortos e desaparecidos da ditadura, aplaudiam, comedidamente, o ato de criação da Comissão, em visível respeito hierárquico à figura da presidenta Dilma Rousseff. E em total descompasso com o entusiasmo da militância de esquerda.

Sentado ao lado dela na mesa de autoridades, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que saiu do Palácio do Planalto após um escandaloso processo de impeachment, ouviu impassível a presidenta destacar a importância da Lei de Acesso à Informação no combate à corrupção.

O também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que acompanhou a cerimônia junto a eles, explicava posteriormente a jornalistas que sua presença ali significava que a Comissão da Verdade era uma iniciativa apartidária, que merece ser apoiada por todos.

A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, saia apressada para evitar o assédio da imprensa, enquanto o ex-ministro da pasta no governo Lula, Paulo Vanucci, fazia às vezes de interlocutor dos temas relacionados à área, explicando a um grupo de jornalistas que não é missão da CV revisar a Lei da Anistia ou reinterpretar sua extensão, de forma a permitir a punição dos militares responsáveis pelos crimes contra os direitos humanos. Dizia ele que esta missão cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF). E que a avalia bastante viável.

Os membros empossados para a CV davam declarações contraditórias sobre temas polêmicos, como a própria revisão da Lei da Anistia e a possível inclusão de militantes de esquerda no rol de investigados.

Sob olhares de ex-torturados e exilados políticos, os ministro da corte máxima do país, que reafirmaram a validade da Lei da Anistia, no ano passado, também protocolavam apoio à iniciativa do governo Dilma.