Por Ricardo Mendonça
No momento em que o golpe de 1964 completa 50 anos, a democracia brasileira bate um recorde. A convicção no modelo democrático como a melhor via a ser trilhada nunca foi tão alta, conforme atestam a última pesquisa Datafolha e a série
histórica do instituto sobre o assunto, que começa em 1989.
Para 62% dos brasileiros, a democracia “é sempre melhor que qualquer outra forma de governo”. Apenas 16% afirmam que
“tanto faz se for uma democracia ou uma ditadura”. E só 14% admitem que “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura”.
Parece haver uma lenta, gradual e segura escalada sobre isso. Quando o Datafolha fez essa pergunta pela primeira vez, 25 anos atrás, 43% dos entrevistados manifestaram convicção absoluta na democracia. No meio dos anos 90, o índice subiu para 54%. Em 2003, foi a 59%.
A crença majoritária e perseverante do brasileiro no regime democrático, porém, não o exime de críticas.
O Datafolha perguntou aos mesmos entrevistados como eles avaliam o funcionamento da democracia no Brasil hoje. Para 61%, ela tem “grandes problemas”. A ideia segundo a qual viveríamos numa democracia plena é assentida por apenas 3%.
A satisfação com a democracia também não é garantida. Só 9% afirmam estar “muito satisfeitos” com ela. Um contingente três vezes maior está “nada satisfeito”. A maioria está na posição intermediária: 59% se sentem “um pouco” satisfeitos com a democracia.
COERÊNCIA
Para o filósofo Marcos Nobre, não há contradição entre o apoio recorde conquistado pela democracia e o fato de a maioria citá-la como um regime com grandes problemas.
“Isso é resultado da experiência democrática. Tem certas expectativas que ela gera, mas não cumpre”, diz. “Junho de 2013 escancarou isso: grandes protestos, mas poucos que foram para a rua estavam contra a democracia.”
Se o regime nos moldes atuais é criticado, há risco de o país cair numa nova ditadura? Não. Pelo menos na opinião das mesmas pessoas que manifestaram insatisfação. Para 75%, há pouca ou nenhuma chance de ocorrer uma nova ditadura no país.
O historiador Marcelo Ridenti atribui essa combinação de resultados às conquistas sociais: “Apesar de todos os problemas que temos visto em todos os governos desde a redemocratização, os direitos sociais têm avançado. E a
população percebe isso”.
A pesquisa foi feita entre 19 e 20 de fevereiro. Foram ouvidas 2.614 pessoas. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
ESQUECIMENTO
O Datafolha também investigou a memória dos brasileiros em relação à ditadura.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1433074-conviccao-na-democracia-e-recorde-mostra-pesquisa.shtml