Abertura de arquivos da companhia em Volta Redonda revela que até cidadãos eram perseguidos
Os arquivos estão guardados desde o período anterior à privatização da CSN, que ocorreu em 1993. O objetivo da pesquisa é obter o máximo de informações sobre funcionários e registros da Assessoria de Segurança e Informação (ASI), que funcionava na empresa, como um braço da Presidência da República no período militar.
“A história de Volta Redonda se confunde com a história da CSN”, diz o procurador da República Júlio José Araújo, que vem acompanhando o trabalho dos 37 pesquisadores. Ele conta que desde o ano passado algumas reuniões já estavam acontecendo. “Fizemos algumas visitas técnicas que constataram que havia fichas de trabalhadores perseguidos pelo AI-5 (Ato Institucional número 5)”.
No dia 12 de fevereiro desse ano finalmente o acordo foi firmado na sede do Ministério Público Federal (MPF) em Volta Redonda. “Esse acordo representa um avanço na questão do direito à verdade e à memória porque vai permitir reconstruir a história da empresa e parte da história de Volta Redonda.” A CSN concordou em franquear o acesso aos arquivos da empresa relacionados ao período anterior à privatização.
A coordenação do trabalho está a cargo do Edgard Bedê, cuja expectativa é que o trabalho dure pelo menos mais um ano. Ele diz que o trabalho da equipe é voluntário e que deve durar pelo menos mais um ano. “Já estamos no arquivo central, que é o principal, onde estão os documentos mais importantes. São 25 mil caixas com todo tipo de documentação e cerca de 30 mil fotos”.
Em busca da memória dos trabalhadores
Para o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damous, é bom lembrar que Volta Redonda teve importância primordial durante a ditadura militar.
“A CSN se valia das chamadas listas negras e as submetia a análises para perseguir os trabalhadores. Estes, por sua vez, eram muito atuantes. O sindicato dos metalúrgicos também era muito forte. É a memória desses trabalhadores que queremos recuperar”, afirmou.
Nesta primeira fase do trabalho, os pesquisadores das Comissões da Verdade do Rio e de Volta Redonda se direcionaram às 25 mil caixas do Arquivo Central da CSN, que abrangem o período de 1940 até os dias atuais. De acordo com eles, a documentação está conservada e guardada em boas condições.
Na segunda fase, os pesquisadores se debruçarão sobre os arquivos de Recursos Humanos e os do Escritório Central e, por fim, os da Fábrica de Estruturas Metálicas (FEM), localizados na Fábrica de Oxigênio (FOX), subsidiária da CSN, também em Volta Redonda. Esse trabalho é importante para localizar os arquivos da Assessoria de Segurança e Informação.