Eleição em colégio decide substituir nome de Médici por Marighela

Com a mudança, a escola poderá se chamar Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella, com o objetivo de lembrar a luta do guerrilheiro baiano que foi perseguido e morto pelo regime militar. A alteração depende, agora, da apreciação da Secretaria Estadual de Educação, que já recebeu o resultado da eleição.

Entre os candidatos, que foram escolhidas após um estudo feito pela professora de Sociologia, estava também o nome do geógrafo e professor Milton Santos, que, assim com Marighella, também foi perseguido pela ditadura. Foram 128 votos para Milton, 406 de Marighella, 27 brancos e 25 nulos.

Um dos líderes da campanha para a mudança foi Sidney Nunes, que faz parte do Colegiado Escolar, representando os pais, e que participa ativamente das atividades da instituição de ensino, administrando, inclusive, um site e uma fanpage da escola. O filho caçula dele, de 15 anos, estuda no colégio, por onde passaram outros três filhos, já formados.“Eu vivenciei a ditadura militar, participei de movimentos contra. Quando soube da ideia de retirar o nome de ditadores de órgãos públicos, em outros estados, encapamos essa ideia aqui, há 3 anos. Somos muito ligados à escola e queríamos tirar o nome de um ditador dela”, explica Sidney.

Sobre a possibilidade de a secretaria não acatar o desejo de alteração do nome, o pai acredita que ela é mínima, dada ao caráter “transparente e democrático que teve a eleição e por toda repercussão e apoio que a campanha teve”.

Família

O filho de Carlos Marighella, que tem o mesmo nome do pai, parabenizou a iniciativa e afirmou que a família ficou extremamente grata e reconfortada com a homenagem. Ele criticou a ação governamental que, passados os 50 anos do golpe militar de 1964, ainda mantém em instituições públicas menções aos militares.

“O que aconteceu neste colégio mostra a tentativa das pessoas de fazerem justiça com as próprias mãos. Esses nomes já deviam ter sido mudados há muito tempo, mas não há uma iniciativa do governo. Depois de tanta luta, é inaceitável que esses símbolos que referendam as ações odiosas daqueles torturadores ainda permaneçam”, defende Marighella Filho.

HomenageadoNascido em Salvador, em 1911, Carlos Marighella foi um dos principais organizadores da resistência ao regime militar e chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura. Ele foi morto em São Paulo, no ano de 1969, por agentes do DOPS (Departamento de Ordem Social e Política).

AI-5

A decisão aconteceu na semana de aniversário do Ato Institucional nº 5, mais conhecido como AI-5, que, em 13 de dezembro de 1968, tornou ainda mais rígida e autoritária a ação militar no país, suspendendo diversas garantias constitucionais. O decreto fechou o Congresso Nacional e deu plenos direitos ao presidente da República, que podia, entre outras coisas, cassar os direitos políticos dos cidadãos.

De Salvador,
Erikson Walla.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=231557