Relatório Figueiredo: ‘Estamos falando de chacinas’, diz governo

Por Luciana Lima

A descoberta do Relatório Figueiredo, documento de mais de 7 mil páginas relata a violência praticada por forças de Estado contra povos indígenas no Brasil, será fundamental para esclarecer pontos obscuros da história recente do País, na avaliação do governo federal. O secretário de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, informou que o relatório servirá para trazer à tona “barbaridades” cometidas durante os governos militares. “Nós estamos falando de chacinas, de métodos cruéis utilizados contra índios”, disse o secretário.

O relatório, que se julgava ter sido destruído em um incêndio no Ministério da Agricultura, em junho de 1967, foi encontrado recentemente, intacto, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. O documento, a que o iG teve acesso, aponta o extermínio de tribos indígenas inteiras, métodos cruéis de tortura praticados contra índios, principalmente por interessados em suas terras e com o aval do Estado. As primeiras informações sobre a existência do relatório foram noticiadas, em abril, pelo jornal O Estado de Minas.

As torturas e as chacinas eram cometidas com o apoio do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão criado em 1910, quando várias frentes de expansão avançavam para o interior do país. “São casos alarmantes de distribuição de medicamentos com cianureto e de cobertores infectados com vírus que, em vez de amenizar o frio, acabavam dizimando populações inteiras”, afirmou o secretário, que teve acesso ao relatório.

Cerca elétrica

Para Maldos, muitos casos envolvendo indígenas no País, mesmo episódios que estão fora do relatório, precisam ser mais estudados. Um caso citado pelo secretário envolve a construção da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista e atravessa o território dos índios Waimiri-Atroari. Entre 1972 e 1975, dois mil indígenas dessa etnia, também conhecida como Kiña, desapareceram.

“Seus corpos nunca foram encontrados e não constam na lista de desaparecidos políticos durante o Regime Militar”, ressaltou.

Pelos relatos dos descendentes, muitos índios Waimiri-Atroaris morreram agarrados nas cercas elétricas espalhadas pelos canteiros de obras. “O que se sabe é eu todos os dias dezenas de corpos precisavam ser retirados das cercas de arame farpado”, destacou Maldos.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-06-11/relatorio-figueiredo-estamos-falando-de-chacinas-diz-governo.html