Por Fabiano Maisonnave
Em 1968, a CIA concluiu que a “agitação” nas universidades brasileiras se devia a “estudantes profissionais”, que passavam anos sem se formar graças às baixas exigências acadêmicas.
No mesmo ano, diplomatas americanos testemunhavam o grande entusiasmo do empresariado pelo AI-5, o mais drástico instrumento de exceção da ditadura militar. Esses relatos são apenas dois exemplos do acervo de 9.872 documentos norte-americanos produzidos entre 1963 e 1977 sobre o Brasil que o projeto inédito “Opening the Archives” (abrindo os arquivos) passa a publicar na internet a partir de hoje.
Resultado de uma parceria entre as universidades Brown (EUA) e Estadual de Maringá (UEM), do Paraná, o projeto digitalizou e indexou material do Departamento de Estado e da CIA. Quase todos estavam acessíveis apenas
nos Arquivos Nacionais, na região da capital Washington. Por enquanto, o site tem cerca de 2.000 documentos. O acervo ficará totalmente disponível até 10 de abril, quando será lançado oficialmente durante simpósio da Brown sobre a ditadura.
“O projeto oferece a possibilidade de uma análise mais detalhada sobre os contatos cotidianos entre os americanos e os brasileiros que assumiram o poder em 1964″, disse à Folha o historiador James Green, da Brown.
“Com o livre acesso a essa documentação, será possível fazer um acompanhamento mais exato sobre como Washington apoiou e às vezes criticou as novas políticas dos governos de Castello Branco, Costa e Silva e Médici”.
Para fazer a digitalização, 12 pesquisadores americanos e brasileiros passaram três meses em Washington. O custo foi de US$ 75 mil, bancado pelas duas universidades. Faltam ainda 10 mil documentos. Green estima que a segunda etapa custará US$ 50 mil, mas, por enquanto, não há financiamento.
O endereço da página na internet é: library.brown.edu/openingthearchives