[Uruguai] Ato militar por mártires em tensão com Frente Amplio

O Exército comemora 40 anos da morte de quatro soldados a mando de um comando do MLN-T [Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaro] em meio de uma forte tensão entre a instituição e o governo, e onde se mescla a eleição presidencial do Frente Amplio.

À 11 horas do dia 18 de maio, efetivos das Forças Armadas vestidos de civis, e representantes das instituições sociais de militares em atividade e retiro, se concentraram na esquina da Av. Italia y Abacú, no bairro de Larrañaga, onde, um dia como hoje de 1972, um comando tupamaro matou soldados que custodiavan a casa do então chefe do Exército, Florencio Gravina.

O único orador do ato será o comandante Pedro Aguerre. Mujica disse a Búsqueda que é melhor que seja ele e não outro militar retirado. Segundo se pôde saber, a mensagem teria “sinais” em várias direções: uma até a interna do Exército e outra até a sociedade civil e autoridades. Pelas especiais características do ato, o ministro da Defesa e o subsecretário Jorge Menéndez não assistiram. Não concorreria nenhum representante do Poder Executivo.

POLÊMICA. Nas últimas duas semanas, o Exército se viu sacudido por duas manifestações políticas do governo, as quais tem como protagonista, direta ou indiretamente, à senadora Lucía Topolansky. Primeiro, a senadora planteou uma entrevista com a agência argentina “Télam” a conveniência de ideologizar as Forças Armadas. Pôs como exemplo de “afinidade” com o governo o atual comandante em chefe do Exército, e o chefe do Estado Maior da Defesa, Daniel Castellá.

Logo, no Exército e nos âmbitos da oposição crê-se que Topolansky persuadiu ao presidente José Mujica para que revocara uma ordem de Aguerre e impedir assim que os efetivos do Exército assistissem ao ato de homenagem aos quatro soldados abatidos em 1972 pelo MLN-T.

No Exército não há mal-estar com o ministro, senão que se reconhece seu gesto em ocasião da homenagem aos soldados. Ademais, os generais respaldam a seu comandante Aguerre em esta instância, disseram a El País fontes da força. No Frente Amplio quase não houve comentários sobre a situação interna.

“ELA CEDEU”. Desde a oposição se adverte uma marcada incidência da senadora Topolansky na relação do Poder Executivo com os militares, algo que se afirma que é motivado pela eleição para presidente do Frente Amplio. “Não é bom dar uma contra-ordem porque a verticalidade da força está baseada nas ordens claras do mando”, indicou o deputado colorado José Amy. A respeito da incidência da senadora Topolansky, sem nomeá-la disse que ela “cede a pressões dos grupos radicais (da esquerda) que criticaram a presença dos militares no ato vestindo seu uniforme”.

Retirados: “isto é discriminar”

Para o presidente do Centro Militar, Guillermo Cedrez, a contra-marcha motivada rechaço ao ato dos familiares dos desaparecidos “é uma evidente discriminação”.

Afirmou que “o fato demonstra que neste país há mortos de primeira e de segunda. Entendo que é uma discriminação que os militares não tennham direito a honrar seus mortos. Porque honrar aos mortos faz a cultura de um povo e, porque não se devem repetir desde ambos lados. Todas as pessoas que cometem delitos devem recapacitar”, manifestou.

Cedrez, um coronel retirado do Exército, insistiu em que “não se pode discriminar ou decidir se vão com uniforme. Os militares usam uniforme, não é de nenhum partido ou facção. O uniforme dos militares é do Uruguai e é da pátria. Os militares são integrantes da nação e devem responder a seu projeto”.

Fonte: Portal Digital El País – Uruguay
Tradução: Pablo Mizraji